Piromania
Nessa semana, fui convidado por uma amiga para assistir a uma exibição na Royal Society, que é uma organização de 1660 (!) voltada para a promoção da ciência. Regularmente, um/a cientista faz uma apresentação sobre sua pesquisa ou atividade—de física nuclear a inovações na agricultura—fazendo do lugar um espaço de estímulo permanente pra quem, assim como eu, vê na nutrição da própria curiosidade intelectual uma forma elegante de se abraçar a vida.
Até onde eu sei, o Brasil não tem um projeto parecido, embora tenhamos uma oferta generosa de cientistas interessados/as em apresentar seus trabalhos e uma demanda também razoável de gente curiosa, fora da academia, que engajariam com interesse em tais discussões (desde que promovidas de forma acessível, como é feito na Royal Society). Fica aí a sugestão despretensiosa do internauta.
No caso da apresentação desta semana, tive o privilégio de assistir o professor Andrew Szydlo—um idoso incendiário muito agradável—falar sobre explosões químicas, esse tema que faz despertar a piromania da infância de quase todos nós. Foram 60 minutos que passaram voando—a exemplo da bolinha de ping pong que, a certa altura, o professor Andrew fez decolar da sua bancada até atingir o teto do lugar como resultado de uma propulsão tão banal quanto interessante.

Foto bônus: a explosão final, anunciada oportunisticamente pelo professor Andrew através da sua simpática corneta.
Cutty Sark
Ainda no espírito da velharia institucional de Londres, nesta semana visitei também o Cutty Sark—um navio a vela que cruzou os mares do planeta no século XIX transportando coisas como chá, pianos e lã. Era o mais rápido do mundo à época, tendo sido aposentado em 1922 na esteira do domínio dos navios a vapor.
É um passeio muito estimulante também—sobretudo pra quem, como eu, leu recentemente A Incrível Viagem de Shackleton, que eu recomendo muito, e ficou obcecado com o interessantíssimo universo náutico (depois de ter passado por experiência similar lendo os livros da família Klink).
A propósito, a marinha é um patrimônio precioso para os britânicos, tanto pela importância histórica de muitas das expedições lideradas pelo país ao longo dos séculos como pelo tratamento caprichoso dado a tudo que orbita a instituição. É um contraste grande para os brasileiros, cuja marinha—e as forças armadas, no geral—estão agora associados a coisas lamentáveis do tipo “Eduardo Pazuello” e “tentativas constrangedoras de ruptura democrática”.
Sempre achei curioso que, em inglês, navios são tratados no feminino—ou, como os millennials diriam, são tratados com os pronomes she/her. Perguntei o motivo ao ChatGPT e aprendi que, aparentemente, há teorias distintas, em geral envolvendo superstição e personificação, representando a busca dos marinheiros por formas adicionais de proteção, historicamente simbolizada por figuras femininas/maternais. Fica o trivia marítimo deste domingo.

Retratos
Para finalizar o editorial turístico dessa edição, trago notas despretensiosas sobre uma das minhas galerias preferidas da cidade: a National Portrait Gallery, que guarda centenas ou talvez milhares de retratos históricos e contemporâneos de gente famosa.
Há, como esperado, um foco grande na maior das velharias institucionais deste país, que é a família real. Para quem gosta de ver idosos brancos vestidos tais quais os Valetes de Espadas de um baralho qualquer, este é o seu lugar. Mas se você também gosta de ver a expressão de gente genuinamente interessante—entre ativistas e artistas—este também pode ser um passeio interessante.
Meu retrato preferido foi o de Malala, a ativista vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 2014 e que tem uma história de vida muito inspiradora. Li há um tempo a sua biografia (Eu Sou Malala, em português), e recomendo muito—aprendi bastante sobre a história e a política do Paquistão, este país importante nuclearmente sobre o qual sempre soube muito pouco.
(Nessa nota, aproveito para pedir sugestões de leituras interessantes dos estimados leitores e leitoras desta newsletters, sempre bem-vindas).
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Dando espaço para velhos e velharias hein?